Filosofia e Democracia

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A DEMOCRACIA

FONTE: https://www.mundovestibular.com.br/estudos/historia/a-importancia-da-filosofia-para-a-democracia
Acesso em 26/03/2020 - 21:07

 


 

Com o desenvolvimento das cidades, Atenas tornou-se o centro da vida social, política e cultural da Grécia, vivendo seu período de esplendor durante o século V a.C., conhecido como Século de Péricles.

A democracia grega possuía, entre outras, duas características de grande importância para o futuro da Filosofia. Em primeiro lugar, ela afirmava a igualdade de todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos [NOTA DO Webmaster: exceto as mulheres, os escravos e estrangeiros] de participar diretamente do governo da cidade, da pólis.

Em segundo lugar, a democracia, que era indireta e não previa a eleição de representantes, garantia aos cidadãos a participação no governo, concedendo a eles o direito de discutir e defender suas opiniões sobre as decisões que a cidade deveria tomar. Surgia, assim, a figura política do cidadão.

Ora, pra conseguir que sua opinião fosse aceita nas assembléias, o cidadão precisava saber falar e ser capaz de persuadir.

Quando não havia democracia, mas dominavam as famílias aristocráticas, senhores das terras, o poder lhes pertencia. Essas famílias criaram um padrão de educação próprio dos aristocratas. Esse padrão afirmava que o homem ideal ou perfeito era o guerreiro belo e bom.

Quando, porém, a democracia se instala e o poder vai sendo retirado dos aristocratas, esse ideal educativo ou pedagógico vai sendo substituído por outro. O ideal da educação do Século de Péricles é a formação do cidadão.

Ora, qual é o momento em que o cidadão mais aparece e mais exerce sua cidadania? Quando opina, discute, delibera e vota nas assembléias. Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal a formação do bom orador, isto é, aquele que sabe falar em público e persuadir os outros na política.

Para dar aos jovens essa educação, surgiram na Grécia os sofistas, dos quais os mais importantes foram: Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Sócrates de Atenas.[ NOTA DO WEBMASTER: Sócrates não era sofista. Isso ficará claro na continuidade do texto. ]

Eles diziam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas (aqueles que buscavam uma explicação racional e sistemática sobre a origem e transformação da natureza e do homem) estavam repletos de erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida da pólis. Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando ser possível ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos. Que arte era essa? A arte da persuasão.

O filósofo Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, rebelou-se contra os sofistas, dizendo que eles não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade, defendendo qualquer ideia, se isso fosse vantajoso. Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valerem tanto quanto a verdade.

Sócrates concordava com os sofistas em um ponto: por um lado, a educação antiga do guerreiro belo e bom já não atendia às exigências da sociedade grega, e, por outro, os filósofos cosmologistas defendiam ideias tão contrárias entre si que também não eram uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro.

Sócrates propunha que, antes de conhecer a natureza e de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro, conhecer-se a si mesmo. A expressão “conhece-te a ti mesmo”, gravada no pórtico do templo de Apolo, deus da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates.

Esse filósofo andava pelas ruas de Atenas, pelo mercado e pela assembléia indagando a cada um: “Você sabe o que é isso que está dizendo? Você sabe o que isso em que você acredita?” “Você diz que a coragem é importante, mas o que é a coragem? Você acredita que a justiça é importante, mas o que é a justiça? Você crê que seus amigos são a melhor coisa que você tem, mas o que é a amizade?”

As perguntas de Sócrates deixavam os interlocutores embaraçados, irritados, curiosos, pois, quando tentavam responder ao célebre “o que é?, descobriam que não sabiam responder a essa questão e que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e suas ideias.

A consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia. O que procurava Sócrates? Procurava a definição daquilo que uma coisa, uma ideia, um valor é verdadeiramente. Procurava a essência verdadeira da coisa, da ideia, do valor. Procurava o conceito, e não a mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas, das ideias e dos valores.

Ora, as perguntas de Sócrates se referiam a ideias, valores práticas e comportamentos que os atenienses julgavam certos e verdadeiros. Ao fazer suas perguntas e suscitar dúvidas, Sócrates os fazia pensar não só sobre si mesmos, também sobre a pólis. Aquilo que parecia evidente acaba sendo percebido como duvidoso e incerto.

Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém pensar. Para os poderosos de Atenas, Sócrates tornara-se um perigo, pois fazia a juventude pensar. Por isso, eles o acusaram de desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as leis. Diante da assembléia, à qual foi levado, Sócrates não se defendeu e foi condenado a tomar um veneno – a cicuta – e obrigado a suicidar-se.


 

 

FILOSOFIA

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FONTE: https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/filosofia
Acesso em 26/03/2020 - 22:13

 

Filosofia. Ciência geral dos princípios e das causas. Podemos determinar o campo da filosofia moderna subtraindo ao domínio do que os gregos chamaram filosofia todas aquelas espécies de conhecimento que foram construindo como ciências positivas, isto é, de caráter experimental e com aplicação da matemática.[1]

Filosofia é a busca compartilhada da verdade. É a busca do entendimento racional do tipo mais fundamental.

Metafilosofia. Teoria sobre a natureza da filosofia.[2]

Filosofia é a aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego[3]

Filosofia. a. A disciplina que estuda os conceitos mais gerais (tais como os de ser, vir-a-ser, mente, conhecimento e normas) e as hipóteses mais gerais (tais como as de existência autônoma e a cognoscibilidade do mundo externo). Ramos básicos: lógica (partilhada com a matemática), semântica (parcialmente partilhada com a linguagem e a matemática), ontologia e epistemologia. Ramos aplicados: metodologia, praxiologia, ética e todas as filosofias de antônimos, gnosofobia. b. A filosofia exata é a filosofia construída com a ajuda de ferramentas formais tais como a lógica, a teoria dos conjuntos e a álgebra abstrata. As vantagens da filosofia exata são a clareza e a faculdade de sistematização e dedução.[3]

Filosofia. Filosofia é o amor pela sabedoria e pela busca do conhecimento. "Só se pode apreender filosofia filosofando." (Kant)

A filosofia nasce quando o homem desafia o insólito, aceita a dúvida, questiona suas certezas e suas crenças ou quando é capaz de ver algo de outra perspectiva. A atitude básica e fundamental para despertar para a filosofia é a curiosidade.[4]

A filosofia é mais uma atividade do que um conjunto de saberes. "A filosofia não é nenhuma doutrina, mas sim uma atividade." (Wittgenstein, Tractatus Logico-Filosoficus) [5]

[1] GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].
[2] LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.
[3] Adaptado de cefetgo.br
[4] BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)
[5] Enciclopédia Barsa Universal

 


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DEMOCRACIA

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FONTE: https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/filosofia
Acesso em 26/03/2020 - 22:15

Democracia. Do grego demos, "povo" e kratia, "poder", "autoridade", define-se, segundo uma norma ideal, como "a organização social em que o controle político é exercido pelo povo, o qual delega poderes e representantes periodicamente eleitos.[1]

Democracia. Na sua acepção mais vulgarizada forma de governo em que a soberania deriva do povo e é exercida por ele: a democracia de Atenas. [2].

Encicl. Tem-se dado à palavra "democracia" uma vasta e imprecisa significação, compreendendo concepções tão diversas (se bem que relacionadas) como as seguintes: a) uma sociedade fundada na igualdade; b) um Estado em que o poder de governar reside no povo; c) uma forma de organização governativa em que o Estado é diretamente administrado pelo povo ou por seus representantes eleitos. Em sentido rigoroso, só merecerá o qualificativo de democrática a sociedade em que foi abolido todo privilégio derivado do nascimento, da riqueza ou da função pública, e onde se estabeleceu uma igualdade substancial de direitos e obrigações legais, bem como de possibilidades sociais para todos os membros.

A existência de castas, hereditárias ou intelectuais, ou de classes econômico-sociais (capitalistas e não-capitalistas) é incompatível com uma organização verdadeiramente democrática, a qual é ameaçada pela acumulação da riqueza nas mãos de alguns indivíduos e pela pobreza extrema em outros. A democracia como princípio social baseia-se na doutrina da igualdade essencial dos homens e de seu igual valor, - ideia derivada de concepção cristã da igualdade de todos os homens perante Deus, mas que deve a sua transferência da religião para a política principalmente ao influxo exercido pelos escritos de Rousseau.[2].

Democracia. O uso do termo "democracia", poder do povo, adquiriu hoje uma dimensão que ultrapassa o significado específico de "forma de governo" ("governo do povo, pelo povo e para o povo") para indicar um modo de ser e de pensar.[3].

Democracia. Etimologicamente o termo designa assim um governo do povo. Entretanto, na Grécia antiga onde o termo se origina, conota mais uma reivindicação política, do que propriamente uma forma determinada de organização do Estado. A reivindicação se orientava contra o fato da concentração do poder nas mãos de algumas famílias aristocratas.

A cidade grega pode mesmo, em certo sentido, realizar uma democracia direta, com participação do povo nas decisões políticas, levando-se, porém, em conta que do povo grego eram excluídos, dentre outros, os escravos e mesmo, os estrangeiros residentes. Esta ideia democrática passou a Roma, onde conseguiu se firmar após a queda da monarquia etrusca; reaparece nas cidades medievais onde os interesses mercantis conseguiram afrontar as pretensões dos senhores feudais. Entretanto, conquanto se chamassem de democracias urbanas, eram de fato dominadas pelos burgueses mais poderosos, e a interferência do povo no poder era de fato pouco expressiva. A ideia, porém, tinha a força irresistível da justiça.

Foi repensada pelos chamados filósofos do século XVIII, e mais tarde elaborada em termos de sistema político. O que a caracteriza, dada a impossibilidade concreta das democracias diretas num país de alto potencial demográfico, é o direito do povo de designar os seus governantes e de controlar o modo pelo qual exercem o poder que lhes é delegado. Assim, numa definição mais compreensiva, a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo.

Para que ele possa designar os seus representantes no poder, foram elaborados mecanismos eleitorais, a princípio ainda restritivos, limitando tanto o número e as qualificações dos elegíveis, como dos eleitores.

Em alguns países, por exemplo, eram excluídas as mulheres do direito do voto; em outros, eram excluídos os que não possuíam bens imóveis, ou não pagavam um determinado montante de impostos anuais. Pouco a pouco, as limitações foram caindo, para se chegar ao chamado sufrágio universal, do qual são excluídos os incapazes por idade, com menos de 21, em alguns países, ou de 18 anos, em outros, ou aqueles que não têm condições para votar com conhecimento de causa, como os analfabetos (hoje, quase inexistente).

Para o controle do exercício do poder, foram também excogitados mecanismos diversos, como as eleições para um determinado período de tempo, com possibilidade de reeleição ou sem, e o exercício do mandato dentro de regras fixadas por uma Constituição elaborada também por representantes do povo.

É evidente que tais mecanismos só podem ter eficácia na hipótese da existência de vários candidatos entre os quais escolher, apresentados por vários partidos, que defendam programas dotados de um conteúdo próprio. É assim difícil de imaginar a compatibilidade da democracia com regimes de partido único, como nos sistemas totalitários.

Por outro lado, o funcionamento eficaz dos mecanismos democráticos é inseparável do respeito de direito e de fato aos direitos fundamentais da pessoa, como liberdade de pensamento, liberdade de expressão, de imprensa e de outros meios de comunicação, liberdade de associação, de locomoção. O reto exercício da democracia não é simples, nem fácil. É, muitas vezes, dificultado por uma série de interesses opostos que lhe criam obstáculos: a exploração da ignorância dos eleitores, o suborno, as fraudes eleitorais, as pressões políticas e econômicas exercidas sobre o eleitorado.[4].

Democracia (démocratie). O regime em que o povo é soberano. Isso não significa que ele governe, nem faça lei, mas que ninguém pode governar nem legislar sem seu consentimento ou fora do seu controle. Opõe-se à monarquia (soberania de um só), à aristocracia (soberania de alguns), enfim à anarquia ou ao ultraliberalismo (ausência de soberano).

Não confundir a democracia com o respeito das liberdades individuais ou coletivas. Se o povo é soberano, ele pode estabelecer soberanamente limites a essa ou aquela liberdade, e o faz necessariamente, porém mais ou menos. É o que dá sentido à expressão "democracia liberal" - porque nem todas o são.

Não confundir tampouco a democracia com a república, que seria sua forma pura ou absoluta - una e indivisível, laica e mesmo igualitária, nacional e universalista... "A Democracia é o que resta da República quando se apagam as Luzes", escreve Régis Debray. Digamos que a democracia é um modo de funcionamento; a república, um ideal. Isso confirma que a democracia, mesmo impura, é a condição de qualquer república.[5].

 

Referências
[1] EDIPE - ENCICLOPÉDIA DIDÁTICA DE INFORMAÇÃO E PESQUISA EDUCACIONAL. 3. ed. São Paulo: Iracema, 1987.
[2] GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].
[3] ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
[4] ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.
[5] COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2011.